A defesa da democracia como valor, a construção de um país que alie desenvolvimento econômico e redução da pobreza a uma perspectiva sustentável, e a busca por um fórum global que tenha a paz como valor essencial. Esses foram alguns dos temas abordados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, em Washington, nos Estados Unidos.
“Defender a democracia é uma obrigação de todos os democratas do mundo. Eu jamais imaginei que pudesse acontecer nos Estados Unidos a invasão do Capitólio, como jamais imaginei que no Brasil, depois de uma eleição democrática, pudesse haver uma invasão no Congresso, na Suprema Corte e no Palácio presidencial. Isso significa que você tem solta no mundo uma extrema direita raivosa, que utiliza fake news como se fosse um instrumento de fazer política. E nós precisamos destruir essa narrativa que eles utilizam contra os democratas”, ressaltou Lula.
O presidente foi questionado por Amanpour, uma das jornalistas mais respeitadas dos Estados Unidos, sobre os investimentos de países mais ricos em torno da questão climática e da proteção da Amazônia. O líder brasileiro afirmou que esse é um debate que precisar ir além das fronteiras do Brasil.
“Eu acho que a discussão não pode ser apenas a ajuda ao Brasil e à Amazônia. Nós temos vários países amazônicos que têm grandes florestas. Na América do Sul nós temos Colômbia, nós temos o Equador, nós temos a Venezuela, nós temos o Peru, nós temos a Bolívia, que fazem parte da Floresta Amazônica, além das Guianas. Ao mesmo tempo, você tem países como o Congo, tem países como a Indonésia, que tem muita coisa a ser preservada e todo mundo precisa de ajuda”, ponderou.
Para ele, é possível trabalhar em conjunto com outros países em um modelo de exploração saudável das riquezas da Amazônia que beneficie a todos, principalmente os moradores da região.
“Nós precisamos transformar a riqueza da biodiversidade que temos na Amazônia num valor para que as pessoas que moram lá tenham o direito de ter acesso aos bens materiais que gostamos de ter. É possível a gente compartilhar a exploração da Amazônia com toda a ciência do mundo. Queremos compartilhar e convidar as pessoas a tomar conta junto conosco”.
Ele ainda ressaltou que esse processo passa, obrigatoriamente, pela proteção aos povos indígenas. “A questão indígena é uma questão humanista. Nós temos 800 mil indígenas no Brasil, espalhados em quase 360 etnias, que precisamos cuidar com respeito. Nós precisamos dar a eles o direito de uma vida decente. De trabalhar, de comer, de produzir. E é isso que nós temos que garantir. E é isso que eu vou garantir”.
PAZ
O presidente Lula reforçou, ao ser perguntado sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia, que seu principal objetivo é liderar uma ampla discussão com outros países na busca por um acordo de paz. Ele inclusive disse, ao ser questionado por Amanpour, que esse foi o motivo pelo qual ele se negou a enviar munições à Ucrânia.
“Se eu mandar, eu entrei na guerra. E eu não quero entrar na guerra. Eu quero acabar com a guerra. O que acho, no caso da Ucrânia e da Rússia, é que é preciso ter alguém que fale em paz. É preciso que se crie interlocutores para tentar conversar com as partes. Essa é a minha tese. Ou seja, nós precisamos encontrar interlocutores que possam se sentar com o presidente Putin e mostrar o equívoco que ele cometeu ao invadir a integridade territorial da Ucrânia e temos que mostrar para a Ucrânia que é preciso aprender a conversar mais para a gente evitar essa guerra. É preciso criar um conjunto de países para negociar a paz”, declarou Lula.
Amanpour questionou o presidente, ainda, sobre a dificuldade que ele terá pela frente ao longo dos próximos quatro anos, com mais de 33 milhões de pessoas em condição de grave insegurança alimentar e um momento nem tão propício para o mercado externo. Lula reconheceu que as condições em que recebeu os país são distintas e mais desafiantes em relação às que encontrou em 2003, mas que tem otimismo em relação ao futuro do país.
“A minha política é simples: é incluir o povo pobre no orçamento. O povo pobre tem que participar da economia. Nós temos que ter uma política muito forte de incentivo ao pequeno e o médio empreendedor individual. Nós temos que ajudar muito a pequena e média empresas, as cooperativas. Nós temos que voltar a fazer política de infraestrutura, na construção de habitação popular, saneamento básico, em obras de estradas e ferrovias. Ou seja, nós já temos na cabeça o projeto e, mais importante, sabemos como fazer. E pode ficar certo que daqui a quatro anos você vai ver o Brasil muito melhor do que eu recebi”, concluiu o presidente.